segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Das Decisões

A vida é feita de decisões.

Daquelas que tomamos embriagados às 3 da madrugada até aquelas que tomamos quando ainda éramos crianças e não sabíamos nada da vida.

A minha vida inteira eu sonhei em fazer intercâmbio. Desde que entrei na faculdade, juntei sempre que deu um dinheiro na poupança, para que quando eu me formasse eu pudesse ficar um ano fora estudando alemão, na Alemanha (sim, esse era meu sonho até então).

Surgiu a oportunidade do Ciência sem Fronteiras e eu fui para Holanda. Como recebi auxílio financeiro por lá, o dinheiro que guardei acabou por não ser necessário. Decidi, então, guardá-lo para minha volta definitiva, quando me formasse. Porém, se tem uma coisa que a volta me ensinou é que não vou conseguir chegar a lugar algum sem motivação.

Não adianta depositar sua motivação no outro, seja em um amor ou em seus amigos. Tem que vir de você. Ao perceber que nada no Rio me motiva a continuar a faculdade, trabalhar ou fazer qualquer outra coisa (nem lembro a última vez que saí de casa para balada), decidi novamente.

Decidi usar esse dinheiro que guardei e passar 3 semanas na Holanda. Natal, réveillon e uma semana de descanso. De recarregar as baterias. De me encontrar novamente, de relembrar qual o motivo dessa batalha diária que eu estou vivendo. De entender o porquê de doer tanto. Quando voltei da Holanda, me senti em queda livre. Em algum momento, o baque, a realidade, veio dura, veio forte. E eu caí, assim, sem proteção, completamente frágil. 

Já passei por situações piores e consegui encontrar forças de algum jeito. Mas, dessa vez, parece que desaprendi a voar. Desaprendi a encontrar a motivação para atingir meu objetivo.

Essa viagem tem um sentido. 

Tem uma meta:


Reencontrar as forças que faltam para voltar a voar. 

domingo, 20 de outubro de 2013

Da Dor

Sim, ainda estou vivo e não esqueci desse blog.

A verdade é que desde o meu retorno para o Brasil, na última semana de agosto, eu não tenho lidado muito bem com o tempo. Na verdade, não tenho lidado muito bem com nada.

A sensação que eu tenho é de ter sido arrancado do útero da minha mãe e jogado em um lugar onde eu não tenho ninguém. Óbvio que ainda é uma sensação inflamada pelo fato de ter se passado tão pouco tempo (serão 2 meses em poucos dias), mas é uma sensação legítima e uma das maiores dificuldades que eu tenho é explicar isso para as pessoas: não, não é por qualidade de vida.

Pelo fato de que eu tenho me sentido péssimo, não tenho vontade de sair ou encontrar meus amigos. Aliás, não tenho vontade de fazer nada além de dormir (lembram do épico "dormindo a gente não sofre"? Então). Isso tem feito eu ser uma péssima companhia, o que só contribui ainda mais para o fato de eu não querer encontrar ninguém.

Eu me sinto mal pelos meus amigos que não me vêem há mais de um ano. Que querem me encontrar, que falam comigo só para descobrirem que eu não estou disponível. Para ninguém. Nem para mim mesmo. Por isso, após 1 mês do meu retorno, publiquei o seguinte texto no meu perfil do Facebook, explicando qual era o real problema com esse retorno (desculpem, mas está em inglês).


A month has been passed since I came back from the Netherlands. Life has not been easy. A lot of people think that the main reason for my sadness and demotivation is the drop in quality of life. That what hurts is having to take an overcrowded bus at 6 am to be at university at 9, standing all the way long, most of the times with no air conditioning.

That the main issue is having to look around whenever I'm in a bus stop to check if there is anyone suspicious so I can use my cellphone. Or doing a traject of 20 min in 2 hours due to traffic jams. This sucks, a lot. But eventually I'll overcome this. There is no big deal besides the daily stress.

What hurts is realising how different I am from people here. How we take so many different things into account when speaking, acting and thinking. And how I feel constrained for it, out of place. It is a complete mismatch between me and my countrymen.

What hurts is listening to jokes that are not funny at all to me. Is reading the newspaper and not be able to relate to anything or anyone. To have nothing here that really holds me, that makes me want to go further.

Is knowing that him is not here. That they are not here.

What really hurts is having found where I belong, but not being able to be there. This is what really hurts.

I should keep trying. I should keep fighting. I should keep...trucking. That's what I hear. 'Give it some time', 'wait, 'it will get better'. When? How? I don't see any light in the horizon, everything for me have been just a grey sky with constant rain. My tears never run dry.

I'm just too tired to keep waiting for a time that never comes. For a moment when all this will become bearable.

I was never that strong.


É o pior é que eu me sinto completamente sozinho nesse sentido. Todos os amigos e colegas que também voltaram do intercâmbio e estão em uma situação parecida, sofrem da conhecida "depressão pós-intercâmbio". Eles, sim, estão sofrendo terrivelmente (com razão, é claro) da imensa queda na qualidade de vida. Mas não há um que não se encontre em casa. Que não pense em viver no Brasil a longo prazo - por mais que queiram uma outra experiência mais longa, porém temporária no exterior.

A solução que eu encontrei para lidar com isso foi bloquear completamente meus sentimentos, em relação a tudo. Eventualmente, eu choro, mas não é o choro libertador, daquele que você fica sem respirar, mas, que quando termina, te deixa leve. São lágrimas que caem, apenas. Por breves períodos de tempo.

A dor não é apenas a da readaptação, mas também da própria dúvida do retorno: não há garantias, independentemente da minha força de vontade e dedicação, de que a volta seja possível. O que me falta, agora, é algo concreto para me agarrar e me dar forças para continuar.

E eu estou lutando desesperadamente para encontrar esse algo.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

De Eerste Keer

Esses últimos meses de Holanda têm me feito aprender tanto, em tão pouco tempo que, às vezes, sinto falta de ar. É tanta coisa para dar conta e o tempo em contagem regressiva não me ajudam a lembrar que também já passei por situações muito piores no Brasil e, guess what, sobrevivi.

Mas, mais impressionante que isso é o número de "primeiras vezes" (eerste keer, em holandês) que eu tive em 2013. Minha primeira viagem sozinho (Berlim, melhor viagem da minha vida), meu primeiro affair de viagem, a primeira entrevista de estágio, o primeiro cara que mexeu comigo de verdade, a primeira multa e até o primeiro pedido de casamento! Enfim, foram tantas, que eu poderia fazer um post sob cada uma delas.

Porém, a primeira vez do dia de hoje é realmente...intrigante pra mim:

Será a primeira vez que não passo o dia dos namorados sozinho.

E, por sozinho, quero dizer acompanhado, mas não de qualquer um. De alguém que ainda não sei se posso chamar de namorado, mas está comigo todo fim de semana, que se importa comigo todo dia, que me convidou para conhecer a família e que vai comigo para Roma por um fim de semana.

Preciso dizer que é uma sensação estranha de, logo neste momento, viver uma situação dessas. Porém, é de uma estranheza tão boa, que me pergunto do que eu estava me protegendo esse tempo todo. De ser feliz? De viver a vida do jeito que ela tem que ser vivida: segundo por segundo, minuto por minuto, hora por hora e dia por dia?



Ah, quer saber? Pouco importa como nos apresentamos aos amigos. 

Somos namorados.

Pelo menos, pra mim :).

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Drunk Pleasures


Após 1 garrafa e meia de vinho e 4 horas em uma balada com cerveja a 1 euro...


- Apertamos todas as campainhas no caminho de volta pra casa, o que significa boa parte de Amsterdam West;

- Mijei num canal de Amsterdam, patrimônio cultural da UNESCO e NÃO fui pego;


- (TOP): Fui pedido em casamento! hahaha

Óbvio que não passava de uma brincadeira de dois bêbados andando pelas ruas desertas de Amsterdam, mas quem diria que com 22 anos eu seria pedido em casamento.



Um dedo a menos no "Eu nunca" agora :P

domingo, 26 de maio de 2013

O Salto

Foram uns dos três dias mais maravilhosos que eu passei do lado de alguém. Aliás, foi o período mais longo que eu, de fato, passei do lado de alguém. Tivemos 100% de tempo de momentos legais. E, acreditem, foi a primeira vez que eu, que ainda engatinho em cozinhar pra mim, cozinhei pra alguém.


Fui embora e depois disso, ficou a saudade. Porém, devido às diversas circunstâncias, incluindo viagens, um outro peguete, e certeza nenhuma do futuro (eventualmente ainda me sinto no direito de exigir certeza de um tempo que ainda não aconteceu), nos encontramos novamente no aniversário de um amiga minha, 1 mês e 1 semana depois.

E foi tão feliz vê-lo de novo. Tão bom que passamos o fim de semana inteiro juntos. E, no próximo, que seria meu aniversário, ele me ofereceu a casa dele pra comemorá-lo. E foi outro fim de semana juntos. E depois outro. E depois outro.

Aí, percebi, como criança que se dá conta da sua ingenuidade, que tinha saltado. Saltado? Sim, saltado. Não pensei em nada. Não pensei na minha volta daqui a alguns meses. Não pensei no quanto seria difíicil.

Segurei sua mão e me joguei. Fui. Caí. Vivi o hoje. Estou vivendo o hoje.


E nunca fui tão feliz.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A vista


Depois do maravilhoso primeiro encontro que tivemos, nada mais natural que nos encontrarmos mais vezes, certo?

Não. Nos falávamos eventualmente, mas só fomos nos ver efetivamente quase 1 mês depois. Eu tinha um congresso pra ir em Amsterdam e precisava de um lugar pra ficar. Eu tinha um amigo lá e sabia que poderia ficar na casa dele. Porém, Max - agora ele merece um nome - tinha me oferecido a casa dele pra ficar durante os 3 dias de congresso e eu acabei topando. Por que não?

Foi nesse momento que tudo mudou. Até então, eu o via apenas como pegação, alguém pra curtir meus últimos meses de Holanda, um fuck buddy, na melhor das hipóteses. Ele tinha viajado pra Paris no fim de semana, então chegaria super tarde na segunda (primeiro dia de congresso) e, para piorar a situação, o celular dele não estava funcionando bem. Mas só descobri isso depois de chegar da festa open bar do congresso com meu amigo. Já eram 0:30.

O que qualquer outra pessoa faria na nossa situação? Deixaria pro outro dia. Porém, o efeito do álcool, que deixa não só a língua e a boca, mas também os dedos que digitam mensagens mais frouxos, enviaram a seguinte mensagem: 

G: Eu realmente quero te ver hoje. 
M: Eu também, quer que eu te busque? Posso te carregar na bicicleta, o único problema é que meu celular não está funcionando e eu não faço ideia de como chegar na casa do seu amigo.
G: Ah, então tudo bem. Amanhã eu te encontro, vai ficar muito difícil hoje.
M: Se você realmente quiser, eu vou.
G: Então vem.



45 minutos depois (tempo aproximado do GoogleMaps) lá estava ele. Às 2:13 da manhã. Depois disso, foi mais 1 hora de pedalada de volta (ele tinha que me carregar na bicicleta ainda). Um detalhe: os dois tinham que acordar 7:30 da manhã. Quando chegamos, ainda conversamos um pouco e fomos dormir. Nem um beijo, nem nada. Apenas a certeza de que ele tinha subido alguns degraus na minha escala pessoal.

Degraus? Não. Talvez tenham sido andares.

terça-feira, 21 de maio de 2013

O Caminho


Não tem sido fácil.

Com alguns dias a mais que três meses para voltar, a única certeza é o sofrimento. Mas isso fica para próxima, porque não importa o quão ruim uma situação seja, o que importa é como você age diante dela.

E eu escolhi viver o hoje.

Ironicamente, apesar de ter "conhecido" muitas nacionalidades aqui na Holanda, só me envolvi com holandês. Todos os peguetes com potencial eram holandeses. Destino ou não, foi assim que foi sendo até janeiro. Eu não tinha me envolvido a sério com ninguém até esse momento e como meu tempo de Europa estava acabando, achei justo abraçar a vida da pegação. Pra valer.

Aí veio o primeiro holandês que mexeu comigo de verdade. Era, sem sombras de dúvidas, o Mr. Perfect. Tinha futuro, era o meu tipo físico, nossa conversa fluía, idade compatível, enfim, adjetivos suficientes para passarmos o dia inteiro conversando por whatsapp. Mas tinha um problema: como todos os casos que eu me envolvi a sério até hoje, ele tinha acabado de terminar um namoro.

E não é que eu estivesse procurando um "namorado". Estava procurando alguém. Alguém que eu não precisasse pedir pra beijar, alguém que eu pudesse só dormir agarradinho, só assistir um filme, que eu pudesse contar das felicidades e tristezas da minha vida. Não deu duas semanas, a mensagem fatídica, que eu já tinha ouvido duas vezes anteriores: "Estou me envolvendo, não quero, não posso. Desculpe, você é ótimo, mas não estou preparado para nada agora".

E isso me arrasou, me deixou mal. Fiz o que qualquer idiota faz nessa situação: se isola. Mas já tinha um date marcado há tempos, e eu fui. E lá estava ele, sem expectativas como eu. Porém, ele estava na mesma situação dos anteriores: não fazia muito tempo, tinha terminado um relacionamento de 5,5 anos. Eu só queria "diversão", então, pouco importava. Mas o destino reserva pra gente cada situação...que jamais poderíamos imaginar.

O primeiro encontro foi muito melhor que esperado: as 3 horas iniciais que era pra durar, se transformaram em 7.


E esse foi o primeiro passo rumo ao abismo...

domingo, 24 de março de 2013

O Tempo Passa

Eu gosto de retrospectivas. É impressionante o quanto a gente pode aprender se olhar pra trás e analisar o que aconteceu, por que aconteceu e como aconteceu.

Hoje, oficialmente, faz 7 meses que eu saí do Brasil. Amanhã, fará 7 meses que eu coloquei meus pés pela primeira vez em solo holandês. É difícil aceitar que, pela primeira vez, eu tenho mais meses aqui do que meses por vir. É como se começasse a perder o encanto, porque sei que é finito, por mais que o natural seja o contrário acontecer: exatamente por perceber que é finito, aproveita-se mais.

O saldo de 7 meses é, naturalmente, muito positivo. Posso dizer que não só acertei da minha escolha de país, mas de curso, de vida. Eu nunca estive tão certo e, ao mesmo tempo, tão despretensioso. Os Países Baixos (nome correto do país, ao invés de Holanda, que é apenas uma região, mas que é muito mais prático de usar e, por isso, continuarei usando :P) hoje é uma verdadeira casa para mim.

Toda vez que viajo (e vejam que já viajei bastante: Paris, Londres, Berlim, Lisboa, Viena...), o momento do retorno é mágico: é aquele sentimento de finalmente estar em casa, no seu aconchego. De poder usar o seu dinheiro, na sua moeda de novo (quando é o caso), de ser o seu cartão de transporte, de reconhecer o idioma (pois é, adivinha quem está dando passos cada vez mais largos em holandês?) e ter a terra como sua. De saber perfeitamente em qual esquina virar, mesmo quando você esqueceu de entrar naquele beco 5 minutos atrás.

A Holanda também me trouxe muitos, muitos amigos. Mas não qualquer tipo de amigos, amigos de verdade. Daqueles que você pode contar para beber uma cerveja contigo mas também para contar dos problemas e - por que não - das felicidades da sua vida. Amigos que eu sei que estarão lá, no matter what. E sei, não porque estou deslumbrado com a simpatia dos bons momentos, mas porque já precisei e encontrei, em terras batavas, meus portos seguros.

O tempo passa. E, por mais que a gente não goste, é de fundamental importância que isso aconteça. O tempo passou e eu pude perceber como é singular esse momento que eu estou vivendo agora. E não é só o tempo que passa. A vida passa. A vida vive.

Se passaram 7 meses dessa foto e eu posso dizer que nunca estive tão feliz. Nunca estive tão feliz de ser quem eu sou, estar onde estou e viver do jeito que eu vivo.


Dank je, Nederland.
Obrigado, Holanda.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Equívocos

A vida é movida a equívocos. Alguns trágicos, alguns felizes. Todos equívocos.

Aquele melhor amigo que você um dia odiou. Aquele que você não tem mais contato, mas que já foi seu melhor amigo. A paixão que te consumiu e hoje te enoja. A questão que você respondeu com toda a certeza do mundo e errou. A questão que você chutou, sem ter a mais vaga ideia do que estava escrevendo e levou o ponto inteiro.

Acho bobagem acreditar no acaso. Os equívocos acontecem por uma razão, não é?

O exemplo mais recente é a minha própria estadia na Holanda. No mesmo período de inscrição para o processo do Ciência sem Fronteiras (o qual eu estava com uma preguiça imensa de tentar), eu tinha feito duas entrevistas para uma multinacional francesa e uma alemã. Na entrevista para a multinacional francesa, eu fui perguntado se eu tinha vontade de fazer um intercâmbio, passar o tempo fora. Nesse momento, me perdi.

Olhei para cima - denotação clara de imaginação na linguagem corporal - e disse sim. Fomos para outras perguntas e explicações, mas ficou nítido nos meus olhos toda a história que tinha passado na minha mente, tudo que eu imaginei, tudo o que eu queria viver. Um simples, rápido e modesto sim foi o suficiente para que eles entendessem. No final da entrevista, a sentença: Corra atrás desse sonho, lute para conquistá-lo. Quem sabe, ele só está esperando você abrir os seus olhos para ele.

A única clareza naquele momento foi de não ser aprovado para o estágio. Recebi a resposta negativa da indústria francesa poucos dias depois e da alemã, 1 semana depois. Fiquei arrasado. Irônico e sarcástico, como de minha natureza, pensei: É um sinal. É um sinal de que eu tenho que tentar esse intercâmbio, vai que isso é só uma forma de me dizer isso? ri. E fiz a inscrição que, ironicamente, estava atrelada ao meu fracasso em conseguir um dos estágios.

Chasing Pavements, eu disse. Por que eu continuava lutando por algo que eu sabia, sentia e previa que nunca chegaria? Que eu nunca conseguiria alcançar? Mas eu fui em frente, disposto a dar murro na ponta da faca mais afiada que enfrentei nessa vida. Disposto a dar o outro lado da cara a tapa.

Finalizar inscrição? 

Inscrição finalizada com sucesso.

No dia seguinte da finalização da minha inscrição, durante outra entrevista, menos importante, recebi uma ligação: a multinacional alemã tinha aberto outra vaga, e eu fui selecionado para essa vaga. Sorri, feliz, surpreso e sem saber o que esperar mais dessa vida. Nada tão bom poderia acontecer comigo durante um bom tempo.

Equívoco.

Equívoco que eu demorei alguns meses para entender e perceber: eles não acontecem por acaso.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

3 meses

Ontem fez exatamente três meses que eu peguei o primeiro avião da minha vida. Lembro perfeitamente da sensação de montanha russa ao decolar, do tédio depois da primeira hora de voo rumo ao desconhecido. Lembro, ainda, de como achei a comida do voo bem apimentada, porém, gostosa. Lembro da minha vida em um novo idioma começar logo ali, tendo que pedir water pela primeira vez, ao invés de água; orange juice, ao invés de suco de laranja.

Lembro da aterrissagem e das lágrimas descendo assim que dei o primeiro passo no Schiphol, o aeroporto internacional dos Países Baixos. Lembro da primeira foto no I Amsterdam e como aquilo representava a realização de tudo que eu tinha sonhado durante tanto tempo.

Lembro também da primeira vez que fui expulso de uma boate, no primeiro dia aqui. Da primeira frustração por não ser europeu, lembro da primeira vez em que não soube falar alguma coisa e inglês e tive que assumir isso para os meus colegas, que riram e disseram: That happens to everybody, all the time. Lembro das primeiras palavras de incentivo que dei para pessoas que eu mal conhecia e das primeiras palavras de incentivo que recebi.

Lembro do primeiro abraço, do primeiro flerte e do primeiro beijo. Da primeira vez que dormi fora. Da primeira vez que me perdi, me encontrei e me perdi de novo. Do primeiro tombo de bicicleta e da primeira ida ao médico, depois ao hospital e depois ao médico de novo. Da primeira vez que acordei ao lado de um desconhecido que se tornou um grande amigo.

Da primeira palavra em holandês. Da primeira ida ao supermercado e da primeira sensação de O que diabos eu estou fazendo aqui?

Provavelmente, ainda estou na lua de mel com a Holanda. Provavelmente, ainda vou decepcionar e surpreender muito.

Lembro ainda de, como olhando para trás, pensando em tudo que eu vivi no Brasil, eu era feliz. Apesar de tudo, eu era feliz. Mas, sem erro, posso dizer que, hoje, sou mais feliz aqui.

Foi aqui que me encontrei. E é daqui que não quero mais sair.