domingo, 20 de outubro de 2013

Da Dor

Sim, ainda estou vivo e não esqueci desse blog.

A verdade é que desde o meu retorno para o Brasil, na última semana de agosto, eu não tenho lidado muito bem com o tempo. Na verdade, não tenho lidado muito bem com nada.

A sensação que eu tenho é de ter sido arrancado do útero da minha mãe e jogado em um lugar onde eu não tenho ninguém. Óbvio que ainda é uma sensação inflamada pelo fato de ter se passado tão pouco tempo (serão 2 meses em poucos dias), mas é uma sensação legítima e uma das maiores dificuldades que eu tenho é explicar isso para as pessoas: não, não é por qualidade de vida.

Pelo fato de que eu tenho me sentido péssimo, não tenho vontade de sair ou encontrar meus amigos. Aliás, não tenho vontade de fazer nada além de dormir (lembram do épico "dormindo a gente não sofre"? Então). Isso tem feito eu ser uma péssima companhia, o que só contribui ainda mais para o fato de eu não querer encontrar ninguém.

Eu me sinto mal pelos meus amigos que não me vêem há mais de um ano. Que querem me encontrar, que falam comigo só para descobrirem que eu não estou disponível. Para ninguém. Nem para mim mesmo. Por isso, após 1 mês do meu retorno, publiquei o seguinte texto no meu perfil do Facebook, explicando qual era o real problema com esse retorno (desculpem, mas está em inglês).


A month has been passed since I came back from the Netherlands. Life has not been easy. A lot of people think that the main reason for my sadness and demotivation is the drop in quality of life. That what hurts is having to take an overcrowded bus at 6 am to be at university at 9, standing all the way long, most of the times with no air conditioning.

That the main issue is having to look around whenever I'm in a bus stop to check if there is anyone suspicious so I can use my cellphone. Or doing a traject of 20 min in 2 hours due to traffic jams. This sucks, a lot. But eventually I'll overcome this. There is no big deal besides the daily stress.

What hurts is realising how different I am from people here. How we take so many different things into account when speaking, acting and thinking. And how I feel constrained for it, out of place. It is a complete mismatch between me and my countrymen.

What hurts is listening to jokes that are not funny at all to me. Is reading the newspaper and not be able to relate to anything or anyone. To have nothing here that really holds me, that makes me want to go further.

Is knowing that him is not here. That they are not here.

What really hurts is having found where I belong, but not being able to be there. This is what really hurts.

I should keep trying. I should keep fighting. I should keep...trucking. That's what I hear. 'Give it some time', 'wait, 'it will get better'. When? How? I don't see any light in the horizon, everything for me have been just a grey sky with constant rain. My tears never run dry.

I'm just too tired to keep waiting for a time that never comes. For a moment when all this will become bearable.

I was never that strong.


É o pior é que eu me sinto completamente sozinho nesse sentido. Todos os amigos e colegas que também voltaram do intercâmbio e estão em uma situação parecida, sofrem da conhecida "depressão pós-intercâmbio". Eles, sim, estão sofrendo terrivelmente (com razão, é claro) da imensa queda na qualidade de vida. Mas não há um que não se encontre em casa. Que não pense em viver no Brasil a longo prazo - por mais que queiram uma outra experiência mais longa, porém temporária no exterior.

A solução que eu encontrei para lidar com isso foi bloquear completamente meus sentimentos, em relação a tudo. Eventualmente, eu choro, mas não é o choro libertador, daquele que você fica sem respirar, mas, que quando termina, te deixa leve. São lágrimas que caem, apenas. Por breves períodos de tempo.

A dor não é apenas a da readaptação, mas também da própria dúvida do retorno: não há garantias, independentemente da minha força de vontade e dedicação, de que a volta seja possível. O que me falta, agora, é algo concreto para me agarrar e me dar forças para continuar.

E eu estou lutando desesperadamente para encontrar esse algo.

4 comentários:

Luciana Nepomuceno disse...

Eu ainda estou aqui, mas nesse momento queria estar aí e te dar um abraço mesmo em você dormindo, é assédio?)

FOXX disse...

sinceramente, e vc não vai gostar da minha sinceridade, isso me parece coisa de gente meio iludida com a vida. Vc, pra começar, tenta explicar seus sentimentos escrevendo um texto em inglês? para seus amigos brasileiros? ou para sua familia que ficou lá fora porque vc não pertence mais a este pais de 3º mundo? desculpe, meu caro, mas vc é brasileiro, e sua terra é esta, e não é nacionalismo barato não, mas o Brasil tem coisas lindas, como a Holanda também tem, mas lembre-se, na Holanda vc ainda era brasileiro e não se engane em momento algum que eles esqueciam disso. É agora que vc está em casa, é agora!

Gui disse...

Nossa, Fox, quanto preconceito na sua mensagem. Em que momento eu diminui o Brasil? Em que momento usei a terminologia de 3º mundo? Segundo, o texto está em inglês porque todas as pessoas que eu queria que entendessem tem o inglês como língua comum.

O que você sabe desse tipo de experiência? Não, meu caro, minha terra não é essa, esse aqui não é o meu lugar. O Brasil tem coisas lindas e maravilhosas, sem dúvida. Eu amo meu país, mas aqui não é o meu lugar. E não, não é por ser de 3º mundo.

Como explico no texto, nem de longe é pelas dificuldades práticas da vida aqui - que eu sempre tive. É algo muito, muito maior que isso. É um sentimento de pertencimento que eu não tenho e nunca tive aqui. E que lá eu tinha.

Você fantasia de arrogância o que eu vejo como tristeza, uma pena.

Júlio César Vanelis disse...

Eu acho que sou capaz de entender a sua identificação. Se associar isso aos laços que deve ter formado por lá, eu diria que você está até se saindo bem, sabe? Eu tenho a impressão de que outros no teu lugar perderiam o controle completamente da situação.
Se existem 2 adjetivos que eu posso te atribuir sem dúvida é forte e perseverante. E duas coisas eu aprendi por experiencia própria: primeiro, as coisas sempre parecem muito mais difíceis do que elas são, principalmente se queremos muito, parece que o fato de querermos tanto bloqueia nosso raciocínio para soluções alternativas, sabe? segundo, você sempre pode trabalhar duro e conquistar seus objetivos (tá, é um clichê... mas alguns clichês são verdade). No fundo, você sabe que você consegue. Calma, respira, e continua, afinal de contas vc chegou há tão pouco tempo que ainda nem deu tempo de respirar direito, não? rs

Boa sorte, cara...
Um abraço