quinta-feira, 19 de agosto de 2010

E a dificuldade da pesquisa no Brasil, um dia acaba?

Ok, talvez não seja a melhor sacada começar com um assunto desses, mas pouco me importo. É o que me aflige no momento.

Provavelmente muitos de vocês já sonharam em ser o cientista que descobre a cura para várias doenças com seu jaleco branco, luvas e tubos de ensaino que, quando misturados, mudam de cor. É a imagem clichê da maior parte de nós mesmo.


O fato é que quando você entra na faculdade e quer ou precisa ganhar algum dinheiro antes de poder estagiar em algum lugar, uma das opções mais viáveis é a Iniciação Científica. Basicamente, um pesquisador fodão te dá um trabalho pelo qual você recebe uma bolsa, atualmente R$360,00, e você fica desenvolvendo esse trabalho 20h semanais, teoricamente.

Também teoricamente, o nome desse pesquisador fodão, com doutorado ou pós, é orientador. TODO MUNDO que já passou por essa situação sabe que na maioria dos casos essa figura inexiste. Simplesmente porque ele é muito ocupado. Ele tem projetos pra entregar, financiamento pra pedir e esquece completamente dos seus orientandos.

Isso broxa qualquer um, porque, convenhamos, quando você não sabe nada, se ninguém te orientar você não consegue desenvolver seu projeto. Essa é uma prática extremamente disseminada no Brasil. E isso funciona, na maior parte das vezes, em todos os níveis de estudo, desde o estudante de graduação até aquele de pós-doc. A diferença é que o estudante de pos-doc não é mais um iniciante. Eu sou. E meu orientador finge que eu não existo, afinal, ele é muito ocupado.


Agora, me expliquem porque eu não consigo entender, tem lógica isso? Cadê a ideia imbutida no conceito de orientador, afinal? Eu não posso chegar no laboratório e colocar uma reação pra acontecer se eu não sei nem que reação eu vou fazer, né?

Uma amiga minha mandou os horários pra orientadora, que disse que estava ok. Depois ela descobriu que precisava de um dia inteiro livre, e ela tinha apenas turnos ao longo da semana. E agora? Não vai ter como desenvolver o projeto?

Além disso, meu orientador pensa que minha bolsa não é prioridade, como se fossem todos os estudantes que podem dispensar o dinheiro. Se ele tem muitos alunos, muito compromisso, porque aceitou me orientar? E esse tipo de comportamento está tão disseminado em todos os setores da Ciência no Brasil, que é um papo de reagente não chega, de gente embolsando dinheiro da pesquisa, de reitoria que não libera verba.

Nesses momentos eu tenho aquela sensação de que, realmente, nada no Brasil pode mudar. Pelo menos a sensação passa. Existem pólos já conhecidos em todos os lugares que conseguem vencer a barreira que é imposta por essa prática mesquinha que muitos de nós temos todos os dias e nem pensamos o quanto isso pode afetar alguém. 

Pois, a solução é eu me formar, estudar como um corno, pra, pelo menos no meu microcosmo, mudar alguma coisa. É a velha estória do quando você muda, o mundo muda com você. Tomara que sim. Um dia desses posso acabar ficando descrente.

6 comentários:

Psique. disse...

é triste, meu bem, mas cientista de alma sempre acredita =)

Gui disse...

E é só assim que a Ciência avança: acreditando.

Don Diego De La Vega disse...

Eu sugiro q vc leia os dois livros q recomendei lá no blog...principalmente o último...

Vão mudar sua vida, sem sacanagem...;)

Júlio César Vanelis disse...

Parabéns Gui... Adorei, msm... Vc podia se candidatar a deputado (hauahauahauah, zuando) Mas sério, aki vc conseguiu expressar tudo que agente passa...

Anônimo disse...

Se a educação não fosse tão ruim vc não chegaria à pós-graduação tão desabilitado. Não culpe seu orientador pelos seu fracasso. Corra atrás que o sucesso será só seu. Caso contrário, o fiasco será apenas seu tb! Boa sorte!

Gui disse...

Não o culpo pelo meu fracasso, o culpo por me privar até de fracassar.

E não, o sucesso nunca é só seu. O artigo publicado vai com o nome de todo mundo (e acho justo que vá mesmo, dando honra a quem tem honra).

Pesquisa não se faz sozinho. Nem aqui, nem em lugar nenhum.