segunda-feira, 6 de setembro de 2010

De pai para filho

Aproveitando que a temática gay acabou surgindo por aqui, aliás, esse post deveria preceder o anterior, porque foi nele que eu pensei primeiro, ontem eu assisti no Programa Pânico! Na TV, que eu já não via há séculos, o reencontro do Evandro Santos com a mãe, que ele não via há 21 anos.

Sabem qual foi o motivo da "separação"?


Exatamente isso. Ele saiu de casa com a seguinte frase "Não quero viado dentro de casa. Ou vira homem ou sai de casa", agora, imaginem, o que um adolescente de 14 anos, em pleno final de anos 80, pensaria ao ouvir isso? Não bastasse todo o preconceito que ele tinha que sofrer no lugar onde morava (e sabemos que na periferia, onde a grau de instrução é menor, o preconceito é maior, embora mesmo nos lugares mais valorizados ainda exista muito) e ainda tinha que sofrer em casa?
Ainda nessa matéria, o programa citou uma estatística interessante: estima-se que cerca de 35% dos Gays, Lésbicas e Travestis já foram expulsos de casa. Agora me explica, como assim? Como assim a pessoa que te colocou no mundo pode ser capaz de te expulsar? Amor de mãe, principalmente, e de pai não deveria ser incondicional?

O que mais precisam dizer pras pessoas entenderam de que ser gay, bi ou hetero NÃO é uma escolha. Você nasce assim, caralho. Ninguém, em determinado momento da vida, acorda e diz "Hoje vou virar viado!". E a última coisa que você quer é decepcionar, de qualquer maneira, as pessoas que mais te amam no mundo. E que ninguém me venha com essa estória de que é ou não genética,  se ou não doença, porque 90% das pessoas que falam sobre isso não tem menor propriedade pra fazê-lo. Quando o seu pastor for graduado em Biologia ou área afim, manda ele vir falar comigo.


Claro que, dessa vez, a estória teve um final feliz, mas poderia não ter tido. Ele morou na rua, teve que roubar roupas, tapetes pra fazer a cama (!) entre uma série de privações que ninguém com uma mãe que tenha o mínimo de condições financeiras precisa passar. Quantos meninos e meninas - isso sem falar nos travestis que são, sem dúvida, os que sofrem maior preconceito - vivem escondendo isso da família ou pior, vivem com a retaliação diária porque contaram? Fora a escola, que é um dos lugares onde se sofre mais preconceito porque você acaba sendo o "viadinho" ou a "sapatão" da turma.

Lembro de uma redação que eu fiz quando estava no 2º ano sobre preoconceito. Eu terminava dizendo que  "o preconceito, assim como os genes, é passado de pai para filho". A professora que corrigiu (que nem era minha professora, mas do cursinho do meu irmão) disse que eu estava "generalizando demais". Oi? Será que ela sabe alguma coisa do que é sofrer preoconceito? 


Será que ela sabe que quando o pai manda o filho parar de andar com "os viadinhos da escola" e/ou com as meninas e começar a andar com os meninos, jogar futebol - fazer programas masculinos (?) - ele não tá passando uma mensagem de preconceito? Será que a mãe que fala pra filha brincar de comidinha e de bonecas, e não ficar jogando futebol com os meninos e/ou brincar de carrinho, também não tá passando essa imagem? É óbvio que sim.

Enquanto os pais continuarem educando seus filhos com a disciplina do ódio, tanto físico quanto verbal, a gente nunca vai poder falar de uma sociedade justa e igualitária.

3 comentários:

Diego Rebouças disse...

E o preconceito se entranha e se espalha de modo poderoso. Essa paranóia que se vê entre alguns gays, por exemplo, de ser ou não ser afeminado. Como se não ser fosse mais desejável. Curioso que esse tipo de classificação só existe nas minorias. Homem heterossexual não fica se classificando assim. Essas classificações só servem para tornar as minorias ainda mais frágeis. Já reparou?

Gui disse...

Pois é, esse tipo de preconceito é ainda pior que do que o preconceito vindo dos heteros. Quer coisa pior do que você humilhar os iguais? É ok você não gostar ou não querer ficar com afeminados se isso não te atrai. Agora desprezar, humilhar, ficar fazendo piadinha, quando, no fundo, todo mundo gosta mesmo de p***. Isso que é foda.

Diego Rebouças disse...

Exato. E, no entanto, é o que a gente mais vê. Discursos que visam diminuir alguém que é da mesma minoria. Mulheres que, por exemplo, ficam medindo outras mulheres pela escolha da profissão ou da família. Curioso que homem hétero não precisa escolher entre profissão e família. Gay que mede o outro por feminilidade, ou por posição sexual. Enfim.