quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Tempos Negros

Fazia tempo que eu não saía da faculdade cabisbaixo, ombros arqueados ao máximo e, eventualmente, uma dificuldade de fechar os olhos sem deixar água escapar...

Fazia tempo que eu não lembrava que palavras - ditas ou escritas - são palavras jogadas ao vento: não dá mais pra apanhá-las depois... Fazia tempo que eu não pensava mais no que o que eu dizia - ou escrevia - poderia causar no outro...e eu vinha dizendo tantas coisas boas, tantas coisas positivas.

Eu já vivi na era das trevas. Uma era na qual tudo o que eu dizia era sincero demais (e, portanto, inconveniente) ou mal-interpretada...uma era de imaturidade.

Eu progredi, evolui até chegar a um nível quase normal de cuidado. Quase.

Mas, eu me descuidei. Talvez tenha esquecido por um momento que a Internet está longe de ser algo apenas positivo. Apenas produtivo. Que também pode ser destrutiva. Que pode arrasar uma pessoa por completo. Como fez hoje comigo.

No post linkado acima, eu comento sobre o resultado de uma prova dos meus alunos. Houveram descuidos de identificação e, principalmente, na hora de pensar o que alguém poderia pensar ao ler o que eu escrevi. A interpretação, afinal, é subjetiva.

Graças ao post cujo estou me referindo não sou mais professor do pré-vestibular comunitário em que eu dava aula. Mas isso não é nem de longe o que me machuca mais nesse momento.

O que me dói mais é lembrar dos olhares horrorizados, críticos, odiosos, raivosos e desgostosos que meus ex-alunos me lançaram quando entrei em sala, para, me explicar e me despedir. Ouvir que o que eles diziam estavam a milhas de distância do que eu tinha em mente quando escrevi aquele post. Ver que alguns nem suportaram ficar na minha presença (incluindo alguns pelos quais eu tinha mais carinho...).

Entenderam que eu os achava um grupo de fracassados que não passariam no vestibular. Entenderam que eu achava ridículo alguém ficar feliz por tirar 4,5. Entenderam que eu fora falso, inescrupoloso, que eu os expus ao público taxando-os de pessoas sem futuro. Entederam que eu era cínico em dizer que não.

É triste ter um descrédito a esse ponto. Minhas atitudes falavam muito. A deles, também. Como falaram hoje e me derrubaram completamente, como na rasteira que eles acreditaram levar de mim, enquanto eles próprios já haviam aplicado em mim. 

Parece que retornei aos tempos negros.

Não preciso me fazer de vítima. Não preciso do blog para ter visibilidade. Eu sou uma pessoa bem relacionada o suficiente. Não tenho pretensão de virar um astro de Internet.

Não preciso fazer esse post pra me explicar pra ninguém (inclusive pra você, que pode estar lendo isso). Aliás, o que eu achava que tinha que ser feito, eu já fiz. Me desculpei em público, admiti tudo o que eu tinha pra admitir. Reconheci o que eu tinha pra reconhecer. Certamente, isso me fará uma pessoa melhor.

Mas isso não tira a dor de olhar pro céu e ver apenas uma nuvem negra. Eu, simplesmente, não serei mais capaz de descer as escadas que dão acesso ao pré como forma de cortar caminho. Não serei capaz de olhar nos olhos de nenhum deles, sabendo que serei eternamente incompreendido. Culpa deles? Não. Culpa minha, de não ter refletido o suficiente. De ter não avaliado o suficiente. De, talvez, não ter sido o que eu almejo ser todo os dias, verdadeiro.

A ironia é uma ferramente da linguagem que é bem imprecisa no meio virtual. Saibam, porém, que este post não possui nenhum pingo da ironia típica do meu ser. Nenhum pingo da alegria, típica do meu ser.

Eu não vou excluir o post. What is done, is done.

Esse post parece mais ter sido escrito pelo meu próprio defunto, um defunto autor. Minha vontade é de dormir como um defunto, sem ter o compromisso de acordar mais...Jamais. Esse post não tem figura por um motivo simples: não há nada que possa representar o luto interior que eu estou sentindo nesse momento. Como se, como uma das minhas ex-alunas ressaltou muito bem, eu "tivesse pegado uma faca e arrebentado uma veia". Peço desculpas se arranquei a veia de algum de vocês, jamais foi a intenção.

Mas, como da primeira vez, os tempos negros passarão. E, mais uma vez, trarão consigo um raio de sol que eu já não acredito mais existir.

Meus pêsames, 

Guilherme.

UPDATE (copiei do Daniel): Resolvi tirar, sim, o post do ar. Vou deixar salvo como rascunho. Só é uma pena perder os comentários...Fui orientado a não me meter nos trâmites legais que esse post pode ter.

6 comentários:

FOXX disse...

sabe a ironia? é pq no último post vc tava tão feliz por não ter q esconder qm vc é... esse pode ser o resultado

Gui disse...

Não acho que tenha uma relação direta (se entendi bem o que você quis dizer...).

Fato é que estou derrubado. Completamente.

Júlio César Vanelis disse...

Pocha Gui... É realmente lamentável que vc tenha que passar por esse tipo de situação... Vc definitivamente não merece isso, nem como pessoa, nem como aluno, nem como professor... Não apague o post de jeito nenhum cara, como você mesmo disse, a interpretação é subjetiva, e quem vai pagar o peço de uma interpretação infeliz não será você, mas seus alunos, que perder a oportunidade de aprender com uma das pessoas mais brilhantes que eu já conheci...

Ânimo amigo, esqueça os tempos negros e bola pra frente rapaz...

Anônimo disse...

Não querendo ser muito intruso ou inconveniente... mas já sendo, vou colocar aqui algumas palavras da Seicho-No-Ie, uma filosofia ecumênica que tem me dado muita sabedoria para lidar com as dificuldades da vida.

Tenho um tipo de folhinha que se troca todos os dias, pois para cada dia do mês, há uma mensagem. E é essa a mensagem para o dia 24:
"Dificuldade atual é trampolim para um grande salto. O inverno é tempo de preparativos para a primavera. Na primavera, as plantas florescem, e os animais intensificam suas atividades. Para isso, precisam acumular energia vital durante o inverno, suportando o frio. Temporariamente, parecem render-se ao rigor do inverno, mas logo manifestam a força latente, crescem e se desenvolvem com grande vigor. De modo análogo, mesmo quando o mundo ao nosso redor parece sombrio, o 'sol da primavera' já está começando a iluminar-nos por dentro, preparando-nos para um grande salto".

Boa sorte, cara.

Lobo disse...

Infelizmente, nós não podemos controlar o que os outros interpretam de nossas palavras. No que nós lemos, não existe tom de voz, e muitas vezes ai é que resite o perigo de ser mal interpretado.

Vai passar. Pode até demorar, mas passa.

O que está feito, está feito. o que você podia fazer, você fez. Agora é levantar a cabeça e partir para outra.

Tem e-mail Gui? Queria te mandar uma coisa in private.

David® disse...

vivendo e aprendendo a jogar...nem sempre ganhando, nem sempre perdendo mas aprendendo a jogar.

Força na peruca!

bjão